Por que fones de ouvido?

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Esta coluna visa trazer tudo de bom para os seus ouvidos: informações técnicas e históricas, dicas práticas para orientar a escolha do fone ideal, para manter a sua saúde auditiva, testes de produtos, links para downloads de gravações, e muito mais.

Meu interesse por fones de ouvido começou com minha melomania crônica diagnosticada na infância. E se acentuou desde 1997, ao ter trabalhado desde então para quatro dos grandes fabricantes mundiais de fones de ouvido.

Nos anos 80, e em plena reserva de mercado, eu devorava revistas como Stereo Review e The Absolute Sound com a mesma avidez de publicações para adultos não menos interessantes para um adolescente…

Então, fui estudar engenharia elétrica para poder entender um pouco mais do assunto, e confesso que se não fosse meu amor pelo áudio não teria suportado os 5.1 anos de ferro constante na minha querida Escola de Engenharia Mauá.

Minha coleção de fones não para de crescer e confesso que até hoje ainda não escolhi o meu modelo favorito! E espero não escolher tão cedo. Tenho, porém, um modelo que defini como o meu “padrão ouro”, com o qual comparo todos os outros. Mas não revelo marca e modelo nem sob tortura.

Mas, por que fones de ouvido? Os fones de ouvido revelam microdetalhes sonoros que se perdem pela interação entre caixas acústicas e ambientes durante a reprodução sonora eletrônica. Ouça aquele vinil ou CD que você conhece de cor e salteado através de um bom par de fones de ouvido e descubra elementos sonoros originais que até então estavam ocultos. E redescubra a sua coleção no processo!

Os fones de ouvido também democratizam o acesso à alta fidelidade, onde mesmo fones denominados “high-end” são acessíveis aos que levam sua música a sério. Quando combinados a microfones, os fones de ouvido se tornam uma verdadeira interface homem-máquina, com os inúmeros dispositivos multimídia portáteis disponíveis e que ainda serão inventados.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Os fones de ouvido incorporam tecnologias que foram desenvolvidas e aprimoradas sucessivamente com o advento da telefonia, na segunda metade do Século 19, do rádio e do som no cinema, na década de 1920, e da alta fidelidade no final década de 1950. A cronologia abaixo lista alguns marcos importantes (não é completa, aceita sugestões e correções, pois constitui um “work in progress”):

  • 1820: Hans Christian Ørsted observa que uma corrente elétrica é capaz de desviar a agulha de uma bússola, um fenômeno natural que tornaria possíveis os microfones e os alto-falantes eletrodinâmicos
  • 1823: Michael Faraday descobre a indução eletromagnética, fenômeno chave para as tecnologias de eletroacústica
  • 1876: Graham Bell obtém a patente do telefone nos EUA, cuja invenção marca o “Big Bang do Áudio”
  • 1881: A Bell Telephone equipa suas telefonistas com fones de ouvido similares a estetoscópios, que liberam as mãos para operar as centrais de comutação telefônicas manuais
  • 1881: Surgem os primeiros sistemas de notícias e música por assinatura via linhas telefônicas, como o Théâtrophone (França, 1881), Telefon Hirmondó (Hungria, 1893) e Electrophone (Inglaterra, 1895)
  • 1910: Nathaniel Baldwin desenvolve seu fone de ouvido com transdutor a cristal para uso com sistemas de rádio da Marinha dos EUA
  • 1910: Sidney G. Brown desenvolve seu primeiro fone de ouvido com carcaça em alumínio, para comunicações militares, que mais tarde seria peça chave na Batalha da Grã-Bretanha
  • 1920 – 1929: Surgem diversos modelos fabricados por empresas norte-americanas e européias, algumas com nomes pomposos como A.C.Gilbert, American Bell, Allen Electric, Briggs & Stratton, Berstan Radio Products, Bannard, Branston, Benwood, Cannon & Miller, Crosley, Crown Mechanics, DeForest Radio, Edeson Radio, Ericsson BBC, Brunet, Eisemann, Firth & Co., Feldster McCusker, Hamburg, Holtzer Cabot, Kennedy, Keefe Gartner, Keystone, MEL, Neufeldt & Kuhnke, Northern Electric, S.A. Potter, Telefunken, Triangle Electric, Welton & Good e Western Electric.
  • 1937: Eugen Beyer lança o DT48, primeiro fone de ouvido com transdutor eletrodinâmico para uso em radiodifusão, que seria fabricado até 2012
  • 1958: John Koss lança o SP3, primeiro fone eletrodinâmico estéreo para uso com sistemas de alta fidelidade
  • 1958: A Stax lança o SR1, primeiro fone de ouvido com transdutor eletroestático
  • 1959: A AKG lança o K50, primeiro fone de ouvido com ergonomia on-ear
  • 1968: A Sennheiser lança o HD 414, primeiro fone com ergonomia on-ear aberta
  • 1969: Neil Armstong dá um salto gigante para a humanidade com um headset in-ear da David Clark como parte de seu “Snoopy Cap”
  • 1970: A Beyerdynamic lança o DT100, fone de ouvido over-ear para monitoração em estúdio
  • 1974: A Audio-Technica lança o ATH-701, com sensíveis avanços na tecnologia eletrodinâmica
  • 1979: A JS&A lança o Bone Fone, primeiro fone com tecnologia de condução óssea integrado a um rádio AM/FM
  • 1979: A Sony lança o MDL-3L2, com ergonomia on-ear, para o Walkman
  • 1984: A Koss introduz o Porta Pro, um fone logo adotado por audiófilos e músicos profissionais
  • 1989: A Bose desenvolve o headset para pilotos de aeronaves, com cancelamento acústico de ruído, cuja tecnologia seria mais tarde adaptada para passageiros
  • 1991: A AKG desenvolve o modelo over-ear AUDIMIR para uma série de experimentos psicoacústicos em microgravidade, conduzidos na estação espacial MIR
  • 1991: A Ultrasone introduz seus primeiros fones com drivers decentralizados, que melhoram o palco sonoro 3D das gravações
  • 1995: A Sennheiser lança o seu processador surround 5.1 LUCAS, para fones de ouvido
  • 1999: A Dolby lança o sistema Dolby Headphone, que traz a reprodução 5.1 para os fones de ouvido convencionais
  • 2005: A Audio-Technica lança o ATH-M50, monitor para aplicações críticas de estúdio, ainda muito popular entre audiófilos
  • 2008: A Monster Cable introduz a linha “beats by Dr.Dre” e redefine o fone de ouvido como objeto de desejo e de transgressão
  • 2008: A Audeze populariza os fones do tipo planar magnético, com tecnologias desenvolvidas para a NASA
  • 2009: A Beyerdynamic lança o T1, com o primeiro sistema eletrodinâmico com intensidade de campo magnético superior a 1 Tesla
  • 2014: A DTS lança o sistema de processamento Headphone X, que permite a reprodução de 11.1 canais com um par de fones de ouvido convencionais
  • 2015: A Sennheiser lança a segunda iteração do seu sistema eletroestático Orpheus
  • 2016: A Smyth Research lança o Realyzer A8 e define um novo paradigma de som surround com fones de ouvido convencionais

Alexandre Algranti  continua na busca do fone de ouvido perfeito. Porém, espera nunca encontrá-lo…

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